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FILOPARANAVAÍ

terça-feira, 8 de outubro de 2013

PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO: Opinião, argumentação, proposta.





A distinção entre Público e Privado; Subjetividade e Objetividade; Senso Comum e Senso Religioso; Filosofia e Ciência; Razão e Crença; é fundamental para um processo que parta de nossas verdades subjetivas, perpasse nossas verdades intersubjetivas expressadas por nossas opiniões e pelo raciocínio lógico demonstrativo/argumentativo possamos chegar às verdades objetivas, reforçando nossa autonomia em relação à uma leitura mais objetiva das realidades que nos cercam, para além de nossas verdades absolutizadas no âmbito da subjetividade [crenças, sentimentos, gostos]. 

Só assim poderemos construir subjetividades autônomas e uma sociedade marcada por relações intersubjetivas que prezem pela tolerância às diversidades pautada pelo respeito mútuo. Antes de tudo, o texto seguinte pode nos auxiliar em uma compreensão mais extensa sobre o que é a opinião e a argumentação em contraponto ao pensamento crítico.

Opinião e Argumentação 
Filosofia e pensamento crítico. 

O pensamento crítico é de algum modo o oposto do sexo na época vitoriana. Na época vitoriana o sexo era uma coisa que toda a gente conhecia e no qual toda a gente pensava, mas de que quase ninguém falava. O pensamento crítico, em Portugal, é uma coisa de que toda a gente fala, mas quase ninguém realmente pensa criticamente nem sabe o que é tal coisa.

A ideia generalizada é que o pensamento crítico consiste em "dar a nossa opinião". Isto está tão próximo da verdade como dizer que uma bicicleta é uma coisa com rodas. Uma bicicleta é de fato uma coisa com rodas, mas não basta que algo tenha rodas para que seja uma bicicleta. Do mesmo modo, o pensamento crítico passa certamente por "dar a nossa opinião" — mas isso não é suficiente. Podemos perfeitamente dar a nossa opinião e não estarmos de modo algum a pensar de modo crítico — na verdade, basta ouvir os políticos e os nossos grandes "intelectuais" a falar na televisão para assistir a esse espetáculo degradante.

Pensar de forma crítica é saber defender as nossas opiniões com argumentos rigorosos, claros e sistemáticos. E é neste aspecto que a filosofia, encarada como uma forma de pensamento crítico, se aproxima da ciência. É que quer a ciência quer a filosofia, praticadas no seu melhor, são um apelo constante ao pensamento crítico, à argumentação — a diferença entre ambas repousa unicamente no tipo de argumentos exigidos. Não basta a um físico dizer que refutou a teoria de Einstein: ele terá de dizer rigorosamente que aspecto da teoria de Einstein ele afirma que refutou e terá de apresentar argumentos poderosos, alguns dos quais de caráter experimental, para sustentar a sua afirmação.

Do mesmo modo, em filosofia, não basta afirmar que "o homem é um ser situado"; é preciso começar por esclarecer o que quer tal coisa dizer realmente, e depois é preciso apresentar argumentos rigorosos, sistemáticos e claros que sustentem tal afirmação. Infelizmente, quem afirma este tipo de coisa em filosofia começa logo por nem esclarecer o que quer dizer a própria expressão de partida, pelo que nem vale a pena dar-lhes ouvidos.


O pensamento crítico é o pensamento que sabe usar os instrumentos argumentativos à nossa disposição, que são disponibilizados pela lógica formal e informal. Pensar criticamente é saber sustentar as nossas opiniões com argumentos sólidos e não cometer falácias nem basear as nossas opiniões em jogos de palavras e em maus argumentos de autoridade.

A filosofia e o pensamento crítico são a nossa melhor defesa contra a superstição. Perante as afirmações temerárias dos astrólogos, dos líderes religiosos e dos nossos políticos, a filosofia e o pensamento crítico dão-nos instrumentos para refletir sistemática, rigorosa e claramente, de modo a determinarmos se isso que eles dizem é ou não realmente sustentável.


Ora, a humanidade não irá sobreviver se for incapaz de encontrar soluções criativas e seguras para os problemas que enfrenta, e se substituir estas pelas soluções obscurantistas dos que defendem antes de mais a autoridade religiosa, a atitude acrítica perante a astrologia e outras pseudociências e a passividade perante as propostas tantas vezes absurdas dos nossos políticos. E os desafios que teremos de enfrentar a longo prazo, como espécie, são muito maiores do que a generalidade das pessoas pensa, pelo que a necessidade de um pensamento límpido e solidamente ancorado em bons argumentos é incontornável.

A filosofia e o pensamento crítico permitirão conceber soluções criativas e sustentadas para os problemas que enfrentamos. Por exemplo, a tecnologia médica permite-nos hoje manter pessoas vivas, em estado vegetativo, durante anos. Isto representa um problema ético a que temos de dar uma resposta clara, baseada em argumentos claros e sólidos, em vez de darmos uma resposta baseada em pressupostos religiosos dúbios. A filosofia ajuda-nos a encontrar essas respostas, precisamente. Este é apenas um exemplo; há muitos mais, como os problemas relacionados com a pobreza no mundo, com os refugiados e com a ecologia.

A filosofia e o pensamento crítico implicam a tolerância e o respeito, que tanta falta fazem no mundo contemporâneo. A filosofia e o pensamento crítico exigem uma postura de cordialidade atenta, pois temos de escutar cuidadosamente os argumentos das outras pessoas para, juntos, encontrarmos argumentos melhores e soluções mais adequadas. O nosso futuro como espécie depende em grande parte da capacidade que tivermos para cultivar o pensamento crítico — essa atitude que a ciência descobriu nos séculos XVII e XVIII e que a filosofia aprofundou nos séculos XIX e XX. Compete a cada um de nós, profissionais da ciência e da filosofia, divulgar não apenas os conteúdos próprios de cada uma das nossas áreas do conhecimento, mas também essa atitude que constitui o maior monumento alguma vez erguido por mão humana: o pensamento crítico e a inteligência clara. [Texto de Desidério Orlando Figueiredo Murcho (18 de Maio de 1965) é um filósofo, professor e escritor português. Disponível em: criticanarede.com/‎]


Proposta de REDAÇÃO / Formato ENEM 

[Ninguém = Ninguém / Engenheiros do Hawaii / Composição: Humberto Gessinger] Há tantos quadros na parede / há tantas formas de se ver o mesmo quadro / há tanta gente pelas ruas / há tantas ruas e nenhuma é igual a outra / (ninguém = ninguém) / me espanta que tanta gente sinta / (se é que sente) a mesma indiferença / há tantos quadros na parede / há tantas formas de se ver o mesmo quadro / há palavras que nunca são ditas / há muitas vozes repetindo a mesma frase / (ninguém = ninguém) / me espanta que tanta gente minta / (descaradamente) a mesma mentira / todos iguais, todos iguais / mas uns mais iguais que os outros. 

[Uns Iguais Aos Outros – Titãs. Composição: Charles Gavin, Sérgio Britto] Os homens são todos iguais / (...) / Brancos, pretos e orientais / Todos são filhos de Deus / (...) / Kaiowas contra xavantes / Árabes, turcos e iraquianos / São iguais os seres humanos / São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros / Americanos contra latinos / Já nascem mortos os nordestinos / Os retirantes e os jagunços / O sertão é do tamanho do mundo / Dessa vida nada se leva / Nesse mundo se ajoelha e se reza / Não importa que língua se fala / Aquilo que une é o que separa / Não julgue pra não ser julgado / (...) / Tanto faz a cor que se herda / (...) / Todos os homens são iguais / São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros. 

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras. [UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/

Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenças individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já não parece tão encantador. Considerando a figura e os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte tema. 

O desafio de se conviver com a diferença Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações: 
1. Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa. 
2. O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração. 
3. O texto deverá ter entre 15 (mín.) e 20 (máx.) linhas. 
4. Escreva primeiro um rascunho e depois passe a limpo. 
5. A redação deve ser escrita à caneta azul ou preta.



filoparanavaí 

domingo, 6 de outubro de 2013

OUTUBRO ROSA PARA AS MULHERES E HOMENS

Um cuidado não apenas das mulheres.Somente 0,8% a 1% dos cânceres de mama acontecem nos homens.Pela desinformação a doença tende a ser descoberta em fases avançadas. 


O câncer de mama também é um problema masculino, apesar de muita gente desconhecer. A edição brasileira do Outubro Rosa 2013, movimento mundial que alerta sobre a doença, está homenageando também homens que já venceram o problema e tem chamado a atenção para a incidência do câncer de mama masculino, pois não há conhecimento sobre as formas de prevenção. 

A falta de informação tem motivo: a complicação é muito rara. Somente 0,8% a 1% dos cânceres de mama acontecem nos homens. A esmagadora maioria dos casos é diagnosticada nas mulheres. O índice é ainda menor quando se avalia os casos de câncer entre o sexo masculino: apenas 0,2% estão relacionados à mama. Apesar de ser um número pequeno, a doença tende a ser descoberta em fases avançadas, pois não há o costume de indicar exames próprios para a detecção do tipo de câncer quando o paciente é homem. Apesar de não ser utilizada como exame rotineiro, a mamografia pode ser realizada e é o exame ideal para a primeira avaliação de anormalidades. Somente pela detecção de tumores, em estágio inicial, é que é possível interromper a história natural da doença.Apesar de não ser a principal causa, a obesidade é um dos fatores de risco. A médica alerta que o acúmulo de tecido adiposo acarreta em maiores níveis circulantes de estrogênio. Este hormônio, quando aumentado - situação denominada heperestrogenismo - está associado à maior incidência da doença. Outros fatores de risco são a idade, histórico familiar e mutações genéticas. 

ENTENDA O MOVIMENTO INTERNACIONAL OUTUBRO ROSA 


Outubro é o mês rosa, adjetivo este ligado a uma causa muito importante, que é a do combate mundial contra o câncer de mama. O movimento popular internacionalmente conhecido como Outubro Rosa é comemorado em todo o mundo. Simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama. Apesar de todas as ações e campanhas chamando a atenção sobre os riscos que o câncer de mama oferece à saúde e a importância do diagnóstico precoce, da realização do autoexame e da mamografia, ainda assim, no Brasil, os casos de mortalidade provocados por este tipo de câncer são altos, o que tem chamado a atenção, principalmente, da comunidade médica ligada à área da mastologia. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), José Luiz Pedrini, alertou que hoje o câncer de mama é considerado no Brasil um problema de saúde pública e somente para este ano existe a expectativa de que 52.260 novos casos de câncer de mama sejam diagnosticados, sendo que o índice de mortalidade é de 12 mil casos. "O câncer de mama tem tido um aumento de 1% a 2% ao ano e este é um aumento, não só pelo aumento populacional, é um aumento real da incidência. Contudo, este não é um fenômeno só no Brasil, isso acontece em todo o mundo, porque não se tem ainda um método de evitar o aparecimento do câncer, o que os médicos têm feito e cada vez melhorado mais é a acessibilidade ao tratamento e a descoberta da doença em estágio inicial, que tem um índice de cura acima de 90%", relatou. 

O mastologista e professor das universidades Positivo, Evangélica do Paraná e UFPR, Jan Pavel Andrade Pachnicki, informou que hoje a média de aparecimento de novos casos de câncer no Paraná é de 3.110 por ano, número que é semelhante ao dos demais estados do Sul do Brasil e que é considerado um índice alto, quando comparado ao restante do país, pois gera um risco estimado de 55.83 casos para cada 100 mil mulheres no Paraná. Pachnicki ainda relatou que comparado ao índice da capital paranaense, esta ainda apresenta um número até maior. "O índice de Curitiba, por exemplo, chega a 75 novos casos para cada 100 mil mulheres, ou seja, 20 pontos a mais do que o Estado. É difícil falar em risco estimado para a população, mas isso significa que no nosso Estado equivaleria dizer que durante a vida, uma de nove mulheres paranaenses, podendo chegar até uma para oito, vão ter câncer de mama e isso nos chama muito a atenção", alertou. 

CÂNCER DE MAMA: HOMENS 


Quando o câncer de mama é abordado em artigos pela internet, jornal escrito, tele-jornal, etc., muitos associam a doença às mulheres. O que muitos não sabem é que o câncer de mama não acomete somente o sexo feminino, os homens também podem desenvolver o tumor de mama. 

A incidência do câncer mamário nos homens é bem menor do que nas mulheres, atinge 1 homem em cada 100 mulheres, por esse motivo a doença é menos divulgada, mas isso não significa que seja menos grave. Quanto mais rápido for diagnosticado o câncer, as chances de cura aumentam. 

Segundo o cirurgião oncológico Renato Santos, do Hospital e Maternidade São Luiz, (São Paulo), os índices de cura para o câncer de mama masculino, assim como na mulher, é de 80% a 90% quando diagnosticado precocemente, enquanto que, se descoberto tardiamente, o índice cai bruscamente, oscilando ente 10% a 20% dos casos. Geralmente é entre os 50 e os 60 anos de idade que o tumor de mama masculino começa a se manifestar. 

Nos últimos 15 anos a incidência de câncer de mama no sexo masculino teve um aumento considerável, se comparado aos anos anteriores. Nicolás Díaz Chico - diretor do Instituto Canário de Pesquisa do Câncer (ICIC) – aponta o consumo de álcool, que influencia na metabolização dos hormônios no fígado, como um dos principais fatores de risco do câncer de mama. Estudos também associam a doença ao abuso de estrogênios (hormônios femininos). O fato do câncer de mama feminino ser mais divulgado favorece a conscientização da necessidade de fazer exames periódicos que possibilitam o diagnóstico da doença. Ao contrário do que acontece com as mulheres, os homens não tem o costume de procurar o médico para a realização de exames preventivos, além da falta de informação, as “razões culturais” também influenciam. 

Por inúmeros motivos, como por exemplo, para ter sucesso com o tratamento, é necessário que ao notar qualquer alteração na região da mama o homem procure um oncologista. Assim como as mulheres, os homens podem fazer o auto-exame de mama – tocando a mama para sentir se há alguma anormalidade, tomografia e exames de sangue mais complexos, para diagnosticar a doença. 

FONTES:
http://www.diariodosudoeste.com.br/
http://www.mundoeducacao.com/

filoparanavaí 2013

BOLSA FAMÍLIA: Antes de você reproduzir os preconceitos das classes dominantes disseminados ideologicamente nos meios de comunicação, conheça o Bolsa Família por você mesmo...

Só mesmo o senso comum para achar que alguém poderia sobreviver o resto da vida com esse benefício. Os valores dos benefícios pagos pelo Bolsa Família variam de R$ 32 a R$ 306. Isso é de acordo com a renda mensal da família por pessoa, com o número de crianças e adolescentes de até 17 anos e número de gestantes e nutrizes componentes da família. O Programa tem quatro tipos de benefícios: o básico, o variável, o variável vinculado ao adolescente e o variável de caráter extraordinário. O Benefício Básico, de R$ 70, é pago às famílias consideradas extremamente pobres, com renda mensal de até R$ 70 por pessoa, mesmo que elas não tenham crianças, adolescentes ou jovens. 


O Benefício Variável, de R$ 32, é pago às famílias pobres, com renda mensal de até R$ 140 por pessoa, desde que tenham crianças e adolescentes de até 15 anos, gestantes e/ou nutrizes. Cada família pode receber até cinco benefícios variáveis, ou seja, até R$ 160. 

O Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ), de R$ 38, é pago a todas as famílias do Programa que tenham adolescentes de 16 e 17 anos frequentando a escola. Cada família pode receber até dois benefícios variáveis vinculados ao adolescente, ou seja, até R$ 76. 

O Benefício Variável de Caráter Extraordinário (BVCE) é pago às famílias nos casos em que a migração dos Programas Auxílio-Gás, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação para o Bolsa Família cause perdas financeiras. O valor do benefício varia de caso a caso. 


SOBRE O BOLSA FAMÍLIA 


Na visão da professora socióloga Walquíria Leão Rego, os ataques ao programa federal criado pelo governo Lula são feitas por setores específicos da sociedade e com base em conceitos preconceituosos. “Existe uma ignorância de algumas pessoas sobre a realidade do seu próprio país. Não sabem a geografia do seu país, que dirá a geografia econômica ou informações sociológicas” 

Sul21 – O Bolsa Família completa 10 anos em 2013, alcançando perto de 5,4 milhões de pessoas e é reconhecido internacionalmente como o maior programa de combate à pobreza. Qual é o impacto real deste programa no desenvolvimento do país, porque ao mesmo tempo, ele segue sendo alvo de críticas? 

Walquíria Leão Rego – Criticado por quem? Temos que nos perguntar a quem interessa falar mal deste programa. O principal impacto é perceptível. Uma parte significativa da população da chamada ‘extrema pobreza’ deixou de estar nesta condição. Isto não é pouco. É algo muito importante. Estas pessoas saíram da miséria absoluta, os índices de mortalidade infantil ficaram mais baixos e isto tem impacto fundamental para um país que se diz minimamente democrático. Conviver com a miséria como o Brasil conviveu por tantos séculos, mesmo depois do fim do regime militar isto fez parte do país por muitos anos, deveria ser um processo que mexe com todos os brasileiros. A imprensa, a academia e a sociedade em geral deveriam ser tocadas com isso. O impacto é muito grande para as pessoas que passaram a ter um rendimento regular, apesar de pequeno. É um dinheiro que eles podem contar todos os meses. Eles aprendem a conviver com esse recurso e buscam querer viver melhor. Este programa é o começo de uma reparação por parte do estado brasileiro. 

Sul21– Os usuários conseguem administrar a liberdade de ter uma fonte fixa de renda, o que para muitos deve ser algo inédito? 

Walquíria Leão Rego - Administram muito bem. Este argumento de que eles não saberiam administrar é preconceito com os pobres. Quem está endividada é a classe média e os ricos, não os pobres. Quando falo em pobres, me refiro aos cadastrados no Bolsa Família, porque existem pobres que estão na categoria de pobres e não estão vivendo na extrema pobreza. Eles administram muito bem os recursos e em dez anos aprenderam a gerir as finanças como qualquer outra pessoa aprende. A qualidade de vida destas pessoas melhorou e elas não estão mais adoecendo. Esta afirmação é algo constatado não só na minha pesquisa, que não é quantitativa, mas pelo IPEA (Instituto de Pequisa Econômica e Aplicada), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ONU (Organização das Nações Unidas), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), todos constatam a mesma coisa. Isto deveria estar nas manchetes dos jornais do país. Demonstrar que este programa, mesmo oferecendo um auxílio pequeno, está tornando as pessoas cidadãos de fato. Este programa garante o direito mais elementar: a vida. 

Estudam no ensino público, fazem intercâmbio no exterior com auxílio público e voltam para abrir um consultório na Avenida Paulista e cobrar até R$ 1,5 mil por uma consulta. Isto é o horizonte típico da classe média brasileira que faz medicina. 

Sul21 – Dados oficiais revelam que 70% dos beneficiários adultos são trabalhadores e os estudantes que participam do programa possuem média de aprovação quase 5% maior que a média nacional. Além de ter um índice menor de abandono dos estudos. 

Walquiria Leão Rego – Isto acontece pela exigência do vínculo das crianças na escola para receber o benefício, o que é muito interessante, porque mostra o quanto estas crianças estavam abandonadas pelo estado. Porém, também é necessário discutir a qualidade da escola brasileira. A escola pública no Brasil precisa de muito investimento ainda. As crianças que eu estudei vivem em cidades do interior, algumas em zona rural e em periferias de grandes cidades. (Recife, Vale do Jequitinhonha, etc ). O benefício também implica o controle da saúde das crianças, mas ainda faltam médicos no Brasil nos postos de saúde destas regiões. O governo federal estuda trazer para o Brasil os médicos cubanos, espanhóis e portugueses, porque os nossos não costumam ir para estes lugares. Isto acontece pela falta de compromisso de certas pessoas com o seu país. Os paulistas, por exemplo, querem fazer medicina na melhor universidade, que é USP (Universidade de São Paulo) ou a Unicamp, para se formar em uma universidade pública. Estudam no ensino público, fazem intercâmbio no exterior com auxílio público e voltam para abrir um consultório na Avenida Paulista e cobrar até R$ 1,5 mil por uma consulta. Isto é o horizonte típico da classe média brasileira que faz medicina. O compromisso com o povo eles não querem saber. Não adianta oferecer o salário e o benefício que for para estas pessoas porque elas não vão para as regiões de periferia e interior. As crianças que são beneficiadas com o Bolsa Família são abandonadas como cidadãos. O estado tenta resolver e a classe média vai para as ruas fazer protesto contra os médicos estrangeiros. 

Sul21 – Recentemente foi divulgado que 1,6 milhão de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família deixaram espontaneamente o programa. Isto contraria a tese de que elas se tornam dependentes do programa? 

Walquíria Leão Rego – Isto sempre foi uma tese preconceituosa. Toda tese preconceituosa é desmentida em pouco tempo. O preconceito é algo estreito. Isto foi desmentido porque este dado revela que as pessoas querem melhorar de vida e, em algumas regiões não há emprego. Aliás, não há nem o que vestir ou que comer. Quem irá oferecer emprego para alguém que vive no sertão? Existe uma ignorância de algumas pessoas sobre a realidade do seu próprio país. Não sabem a geografia do seu país, que dirá a geografia econômica ou informações sociológicas. Então, há muito preconceito e estereótipo por trás destas teses. 

Sul21 – A senhora desenvolveu a pesquisa por conta própria, sem apoio financeiro da Unicamp ou do governo federal. Financiou as viagens do próprio bolso, agendando as excursões em seus períodos de férias. Como alcançou a publicação do livro? 

Walquíria Leão Rego – Consegui a publicação por meio da editora Unesp (Universidade Estadual Paulista), que é uma editora universitária. As outras editoras não se interessaram pelo meu material. Percebi que teria que ser pela editora universitária e creio que este é o papel mesmo. As editoras comerciais só estão interessadas em lucro. As publicações são aquelas que irão vender. Mas, mesmo contando com editora universitária não é fácil publicar estudos como este no Brasil. A remuneração proporciona uma liberdade pessoal para as pessoas. Esta é uma das importantes funções do beneficio ser em dinheiro. 

Sul21 – Na sua pesquisa, que resultou no livro Vozes do Bolsa Família, foram ouvidas 150 mulheres cadastradas no programa. O que é possível dizer desta experiência de dar autonomia para as mulheres na gestão dos recursos do Bolsa Família? 

Walquiria Leão Rego – Nós ouvimos muito mais pessoas, mas selecionamos uma amostragem de 150 mulheres para poder fazer um recorte. O livro é um experimento interpretativo, sociológico e com contribuição para o meio intelectual. Não terá grande reflexo na sociedade que, sinceramente, sei que não irá se interessar em ler meu livro. O que é uma pena, porque pode ser uma oportunidade de a sociedade experimentar conhecimento sobre seu próprio país. O estudo desfaz uma série de estereótipos de que os pobres só querem depender do estado e não querem trabalhar. Quem ler este livro conseguirá aprender alguma coisa. É a minha esperança. Agora, o conceito de autonomia é muito complexo. Tem implicações morais e políticas. O que podemos dizer é que, o fato destas mulheres tão destituídas em suas vidas e em estado de extrema pobreza, passarem a ser titulares de cartões de recursos transferidos pelo estado traz certa autonomia. A remuneração proporciona uma liberdade pessoal para as pessoas. Esta é uma das importantes funções do beneficio ser em dinheiro. É diferente se fosse uma cesta básica, onde já é determinado o que a pessoa irá fazer com o recurso e o que ela irá comer. Fica imposto a quantidade de comida e o tipo de alimento que ela irá comer. O dinheiro dá liberdade de escolha, com isso elas aprendem a administrar os recursos. É um exercício de cidadania muito maior do que as classes mais abastadas pensam sobre a capacidade dos pobres. 

Sul21 – Os homens ficaram ou tendem a ficar para trás neste processo de desenvolvimento que foca nas mulheres, a curto, médio ou longo prazo? 

Walquíria Leão Rego – Homens também são pobres, analfabetos ou com mínima escolaridade. O desemprego é geral, não está relacionado com o gênero em determinadas regiões do país. Por séculos o estado abandonou parte do país. É preciso ter esta consciência. Agora, com o Bolsa Família, é que se começou a fazer alguma coisa pelo abandono desta parte da população. O estado decretou há muitos anos a morte civil destas pessoas. Elas não têm voz, a sociedade não as escuta. As pessoas não querem pensar sobre isso ou mesmo esquecem de pensar porque isso as incomoda muito e passa a crescer o preconceito. Os brasileiros conviveram por várias gerações sabendo da existência da pobreza e defendem que a culpa é dos próprios pobres que “não querem trabalhar” ou “são vagabundos”. Se não tivesse existido um programa como o Bolsa Família, pessoas seguiriam morrendo no Brasil, África e em tantas outras nações onde ele foi criado. No que se refere ao programa Bolsa Família, por exemplo, creio que seja necessário aumentar o valor do benefício. É preciso ter mais oportunidade de acesso ao ensino. A imprensa precisa ser melhor. É uma imprensa muito controlada pelos seus patrões. 

Sul21 – Como garantir o desenvolvimento do país após o desligamento do Bolsa Família? 

Walquíria Leão Rego – Tem que se avançar muito mais no país em termos de desenvolvimento. No que se refere ao programa Bolsa Família, por exemplo, creio que seja necessário aumentar o valor do benefício. É preciso ter mais oportunidade de acesso ao ensino. A imprensa precisa ser melhor. É necessário que aconteça um conjunto de políticas públicas, inclusive específicas para a realidade destas regiões mais pobres. A educação é feita na escola, com a alfabetização, mas outras formas de formação para estes cidadãos são necessárias. Uma pessoa do sertão aprende a ler, mas segue vendo apenas televisão. Isto não resolve muito. Nós temos que discutir o que é educar. Não é só escola. É ter uma mídia democrática que produza conteúdos que elevem as pessoas. A televisão hoje indignifica as pessoas. Estamos ainda iniciando um novo processo de formação e transformação no Brasil. Eu citei apenas alguns exemplos aqui, mas temos muito que avançar.O que foi feito no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso não tinha a mesma dimensão distributiva e a amplitude do Bolsa Família criado no governo Lula. 

Sul21 – Por ser um dos poucos estudos acadêmicos sobre um dos programas mais importantes para a gestão do PT, e do próprio PSDB, que alega a paternidade do embrião do programa, a senhora imagina que seu livro terá uso político? 

Walquíria Leão Rego – Não temo. Este recente episódio do boato que o programa iria acabar e que levou centenas de pessoas aos bancos em poucas horas, mostra bem para os críticos o tamanho da necessidade do Bolsa Família. Eu creio que essa reação das pessoas mostrou a importância que o programa tem na vida delas. Isso mostra o significado dessa bolsa para a população. Por isso, acho pouco provável que alguém queira brincar com isso. Além do que, o programa de fato tomou a dimensão que tomou e se tornou o maior programa do mundo não foi com o PSDB. O programa deles (PSDB) era outra coisa. O que foi feito no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso não tinha a mesma dimensão distributiva e a amplitude do Bolsa Família criado no governo Lula. A transformação social do país por meio deste programa começou, sem dúvida, no governo Lula e agora tem continuidade com o governo Dilma, isso não tem como negar. Se um jornalista quiser fazer investigação sobre isso, é só perguntar para as pessoas nas ruas do Brasil. Isso é um dado de realidade, não tem como mentir ou falsificar a história. 

Sul21 – A senhora acredita que a imprensa tem interesse em dar voz aos críticos deste programa de forma sistemática? 

Walquíria Leão Rego – De fato, isto é algo recorrente. A desqualificação do governo, das pessoas, do programa, e ao mesmo tempo a não-informação sobre o êxito desta iniciativa. Isso é o que mais me assusta, como eles (a mídia) se sentem no direito de não informar o país sobre o que está acontecendo no país? Você não vê isso em outros lugares do mundo. É uma imprensa muito controlada pelos seus patrões, talvez uma das mais controladas do mundo. 

Sul21 – A senhora vê com esperança o avanço da democratização da mídia no país? 

Walquíria Leão Rego - A própria imprensa hegemônica não quer discutir a democratização, e colocou na cabeça de seus jornalistas — e de alguns intelectuais que ela já produziu — que eles devem escrever que discutir e regulamentar a imprensa é abdicar da liberdade de expressão. Então eles usam essa questão para não discutir que quem não pratica essa liberdade de expressão são eles. Eles recusam o debate e usurpam o direito democrático à informação. As pessoas, de modo geral, não sabem o que está acontecendo. Alguma vez a grande imprensa fez alguma matéria séria sobre o Bolsa Família? Nunca. Pelo contrário, ela difama, mente e distorce. Isso não é jornalismo. 


filoparanavaí 2013