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FILOPARANAVAÍ

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

SOMOS TODOS E TODAS FILÓSOFOS E FILÓSOFAS?





Uma reflexão necessária: 
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
E A FILOSOFIA NA HISTÓRIA: 
Para quê Filosofia? 
por Lucio LOPES


Sem PENSAR CRITICAMENTE o passado e sem utilizar todo o “capital” de conhecimentos, em nosso presente, tornamo-nos neste tempo atual de tantas crises, meros filósofos sem objetivos e errantes mundo afora. Deixamos de cumprir nosso papel de 'peregrinos do conhecimento' capazes de fazer a diferença através de uma ferramenta tão salutar e original, sem dizer que diretamente ligada a mais das sublimes faculdades humanas, como referendado por Aristóteles em "Ética a Nicômaco", que é a Razão.

Filosofia não é uma atividade intelectual acessível apenas aos "filósofos profissionais e capazes de criarem grandes sistemas", visto que, num certo sentido, "todos os homens são 'filósofos'" . 

Em Gramsci (
GRAMSCI, Antonio. Introdução à Filosofia da Práxis. 29ª ed, Lisboa - Portugal: Editora Antídoto, 1986.), p. 11, o texto original explicita esta conjetura mais claramente) podemos ler:

“É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Deve-se, portanto, demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são ‘filósofos’, definindo os limites e as características desta ‘filosofia espontânea’ peculiar a ‘todo o mundo’, isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo; 2) no senso comum e no bom-senso; 3) na religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ver e agir que se manifestam naquilo que se conhece geralmente por ‘folclore’”. (1986, p.14) 



TODOS SOMOS FILÓSOFOS 

É preciso, portanto, demonstrar preliminarmente que todos os homens são “filósofos”, definindo os limites e as características desta “filosofia espontânea”, peculiar a “todo o mundo”. É preferível “pensar” sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, “participar” de uma concepção de mundo “imposta” mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos muitos grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na “atividade intelectual” do vigário ou do velho patriarca, cuja “sabedoria” dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação), ou é preferível elaborar a própria concepção de mundo de uma maneira consciente e crítica e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não mais aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?” 

O texto faz parte dos Cadernos do cárcere – coletânea em vários volumes de textos escritos por Gramsci durante os 8 anos passados na prisão como 'preso político' – Caderno 11 (1932-33): Introdução ao estudo da filosofia. (ed.Civilização brasileira, Rio de Janeiro, 1999, Vol.I, p.93). 

Está evidenciado que: “A filosofia é uma ordem intelectual, o que nem a religião nem o senso comum podem ser (...) A filosofia é a crítica e a superação da religião e do senso comum e, neste sentido, coincide com o ‘bom senso’ que se contrapõe ao senso comum”.(JASPERS, Iniciação filosófica, Lisboa: Guimarães, 1976. p.22) 

“Todo o Homem enquanto homem filosofa. Mas a coerência conceitual do que esta afirmação implica não se alcança de modo algum num rápido relance. O pensamento filosófico sistemático requer estudo”. Não há mágica nenhuma. E conforme recorda Jaspers, é um trabalho que exige um enorme esforço voluntário.


Filosofia e história da filosofia caminham de mãos dadas e, esta relação não pode deixar de ser considerada no processo, seja do aprendizado, ou seja, no próprio desempenho da atividade do Filosofar. Não se separam, não porque não queremos, mas porque não podem. Seria a própria destruição da filosofia e o mesmo se daria em relação a nós se resolvêssemos que nosso passado não tem importância alguma para a construção de nosso presente e futuro.

E, isto é dizer, é necessário que tenhamos sempre a capacidade de dialogar com a História da Filosofia e, ao mesmo tempo, com a Filosofia na história, implicando na arte heteronômica das relações sujeito-sujeito. Como já foi dito estes movimentos devem ser de caráter concomitante tanto no ensino de Filosofia como no exercício do Filosofar.

Isto é, demarcar nesta nossa reflexão que o recurso à História da Filosofia e a textos filosóficos (dos próprios filósofos) é absolutamente necessário e indispensável ao trabalho com Filosofia. Não é possível fazer filosofia, sem recorrer a sua própria história.

E isto é dizer, ainda mais uma vez, aquela metodologia orientada por técnicas de leitura e análise de problemas filosóficos a partir de textos dos clássicos, utilizando-se da História da Filosofia a partir de uma metodologia que privilegie a dinâmica linear abordando os principais períodos desta, tais como a Filosofia Antiga, Medieval, Moderna, Iluminista, Contemporânea; tem que ser privilegiada em conexão com os estudos dos principais filósofos destes períodos respectivamente (priorizando-se nomes como Platão, Aristóteles, Epicuro, Santo Agostinho e Aquino, Descartes, Kant, Hegel, heiddeger, Foucault e tantos outros).

Também associada a esta metodologia tão antiga quanto a “Escolástica” está a técnica que prioriza os conceitos ou temas destacando-se alguns filósofos  investigados, tais como, por exemplo, “a ética em Aristóteles”, “a felicidade em Epicuro”, “a liberdade em Sartre”, “o conhecimento segundo Hegel”, “a estética Kantiana”, entre outros. E estas conexões metodológicas deveriam focar ao final o FILOSOFAR concretamente inserido em nosso contexto atual.

Não importa se vou começar a Filosofar e então somente depois revisitar a História da Filosofia, ou se vou começar a tratar de temas para então depois revisitar a História e logo vir a Filosofar. Não importa, o que importa é entender que a Filosofia tem uma História e está na História e que, cada Filósofo pode, portanto, no exercício de seu Filosofar, escrever uma nova página dessa arte de filosofar para resolver problemas.


Como não cair na tentação de banalizar o ensino e aprendizagem de Filosofia deturpando aquilo que a Filosofia tem de mais rica que são seus sistemas filosóficos tradicionais, históricos e ao mesmo tempo, clássicos? Deleuze lembra que os sistemas continuam válidos, pois é deles que desenvolveremos a arte de “roubar conceitos”.



Para aprofundar um pouquinho mais vou deter-me no Filósofo Deleuze.

(Gilles Deleuze, nasce, em Paris, em 1925 (18 de janeiro). Morre na mesma cidade, em 1995 (4 de novembro). 

Filósofo, de ampla produção literária, tem suas primeiras publicações oficialmente em 1953. Gilles Deleuze deixou um legado importantíssimo para o processo de transmissão da Filosofia e do Filosofar. Se eu pudesse resumir esta contribuição, eu resumiria assim: A atitude filosófica infindável transformada em uma metodologia original, radical, subversiva, do aprender a aprender aprendendo a desaprender para poder aprender sempre mais desaprendendo e assim, lançando-se em uma dinâmica, uma aventura inventiva do Filosofar que sempre será nova e produtiva.


Com Félix Guattari, Sociólogo, Deleuze escreveu o livro “O que é a Filosofia”? (REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.) Sobre a motivação que levou ambos a produzi-lo diziam que em relação à pergunta título da obra: “(...) Antigamente nós a formulávamos (...) de maneira (...) demasiadamente artificial (...) o que é isso que fiz toda a minha vida? (...) a velhice dá, não uma eterna juventude, mas ao contrário uma soberana liberdade (...).”

Com isso, eles acreditavam que agora detentores de um “valioso capital” filosófico, conquistado desde a juventude, podiam encontrar uma resposta satisfatória para esta questão crucial: “O que é a Filosofia?” O criar conceitos na perspectiva deleuzo-guatariano coloca em estreita relação ação criadora e conceitos. Afirmam que “criar conceitos sempre novos, este é o objetivo da filosofia” . Lembram que em decorrência disto, “o filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência” .


Mas as ciências e as artes enquanto manifestações de conhecimentos, assim como a filosofia também possuem a capacidade auto criadora de conceitos; então em que a Filosofia se diferencia daquelas? A diferença está em que o filósofo imprime sua assinatura “embaixo”, deixa registrado sua marca, através dos coneceitos que cria, respondem Deleuze e Guattari.

Mas o CONCEITO criado por um Filósofo só tem sentido imerso no Universal - na totalidade - Em relação à imanência dos conceitos eles são taxativos: “Não há conceito simples”. Todos são compostos por multiplicidades nas singularidades. O um não exclui o outro, ao contrário, é necessário que haja o outro. É a multiplicidade que dá sentido ao conceito.

Deleuze e Guattari lembram a relação múltipla dos conceitos lembrando que “são vizinhos”, são solidários e “não se pode saber exatamente a linha demarcatória entre o começo de um e o término de outro, eles se mesclam” . Conceitos nunca se isolam, carregam a bandeira da multiplicidade.

Ao tratar do problema trabalhado por Deleuze em relação à repetição da diferença em Nietzsche, MACHADO (1990) é claro ao dar uma explicitação do cerne da fabrica conceitual em Deleuze que residiria na “(...) distinção entre um conteúdo manifesto e um conteúdo latente” . A novidade do conceito se dá neste segundo movimento.


A característica crucial na definição de Filosofia enquanto criação de conceito devolve à Filosofia a sua capacidade original de “subversiva”. Não há nesta dinâmica Deleuze-guattariana espaços para a imobilidade, para a dogmatização do conhecimento.

Os esforços de ambos, concentram-se justamente no sentido de purificar a Filosofia daquilo que não é filosofia, ou seja, deixar a Filosofia nua diante de si mesma despojando-a de tudo aquilo que historicamente tentaram lhe impor e em especial, a tentativa de delimitar sua ação. A Filosofia nunca cessa, é latente e sempre avança, nada pode detê-la e ela a nada teme irrompendo, por sua capacidade criadora, todos os limites que ousem habitar seu caminho. Assim, estudar Filosofia a partir de sua história só faz sentido se esta história for problematizada e levar a conseqüente produção de conceitos.

Ora, mas há algo ainda mais caro na pedagogia Deleuze-guattariana, ou seja, a Filosofia enquanto criação de conceitos só é possível com o rompimento dos limites impostos pelo pensamento dogmatizado. Não é uma tarefa fácil , pois que o pensar não é, em hipótese alguma, um exercício natural de uma faculdade. O pensamento não pensa sozinho e por si mesmo.

Pensar é muito caro para a filosofia de Deleuze: Pensar não é o exercício natural de uma faculdade. Pensar é, sobretudo, interpretar, e isto é dizer em outras palavras, violentar o pensamento retirando-o de seu natural estupor. Pensar, é então explicar, desenvolver, produzir, decifrar, traduzir signos. Na concepção Deleuze-guattariana é poder chegar à produção (fabricação) de conceitos filosóficos.

É preciso explicar que a REFLEXÃO não é a característica salutar do Filósofo na concepção de Deleuze, pois que esta marca pode colocar a Filosofia a serviço da dominação e não da LIBERTAÇÃO. Pode sequestrar a Filosofia a um jogo de interesses e a Filosofia não pode correr este risco, pois que seu papel é justamente se firmar contra todas as formas de dominações. O CONCEITO é a chave de sua LIBERDADE.

MACHADO ressalta que (MACHADO, Roberto. Deleuze e a filosofia. Rio de Janeiro: Graal, 1990.): “Quando Deleuze diz que o filósofo é criador e não reflexivo, o que ele pretende é se insurgir contra a caracterização da filosofia como um metadiscurso, uma metalinguagem, que tem por objetivo formular ou explicitar critérios de legitimidade ou de justificação, e reivindicar para ela a produção de conhecimento ou, mais propriamente, a criação de pensamento, como as outras formas de saber, sejam elas científicas ou não. Daí por que ele denuncia a epistemologia como um agente de poder na filosofia que desempenha, como a história da filosofia, um papel de repressor do pensamento ou se constitui como um aparelho de poder no próprio pensamento.(...)”. Ibid., (1992), p.15. Ele entendia o conceito como forma de demarcar aquilo que é próprio da filosofia por singularidade e que possibilita a vivacidade da mesma que não “renasce, pois jamais está morta, embora tentem matá-la de várias maneiras (...) Ela nem mesmo espera reanimações pois não desmaia e nem dorme; ao contrário, desperta quem dela se aproxima (...)”. Como nos lembra Luiz B. L. Orlandi, tradutor da obra de DELEUZE (2001) “Empirismo e Subjetividade”. É necessário entender ainda que o “conceito”, para Deleuze tem o poder de contestar por esta atividade heterogênea o idealismo dos Universais e sobre isso, escrevem DELEUZE, GUATTARI (1992), p.15: “(...) O primeiro princípio da Filosofia é que os Universais não explicam nada, eles próprios devem ser explicados”.

Quando se entende Filosofia, também, como uma atividade de emancipação, oferecer a possibilidade da pessoa conduzir-se para fora, Deleuze tem muito a nos oferecer com sua proposta de criarmos “conceitos”, libertando nossa imaginação, praticando a subversão das formas pré-estabelecidas do pensamento na educação tradicional, da moral vigente na sociedade e, geralmente engendrada pela religião dominante, e isto é dizer, uma subversão dos valores pré-definidos na sociedade e aceitos por conveniências sociais.


Ora a perspectiva deleuzeana trabalha justamente com o imaginário racionalizado. A perspectiva pedagógica deleuzeana é dialógica e seu criar conceitos não é uma tarefa fácil de ser colocada em prática.

O diálogo deleuzeano no processo ensino e aprendizagem de Filosofia parte dos clássicos, passa pelas problemáticas que se impõe a partir de nosso cotidiano presente e irrompe em novas respostas que por sua vez desencadearão em novas problemáticas, ou seja, o eterno movimento vivificante da Filosofia – aquilo que faz a Filosofia ser Filosofia. Aqui temos o duplo devir deleuzeano sem os quais não existe Filosofia: a constituição dos problemas e a criação dos conceitos que daí advêm.


Deleuze nos ensina a dialogarmos com o diferente na multiplicidade. O mundo poderia ser diferente se isto fosse levado a sério e muita coisa poderia ser transformada e coadunada em benefício de toda a humanidade. Seria o advento do estabelecimento de uma ética universal sonhada por Sartre contra a dinâmica real do “homem auto-destrutivo”.


Nossa geração pós-regime ditatorial 64 foi educada a NÃO PENSAR/NÃO REFLETIR. E a nova geração ainda carrega este estigma. Vivemos em uma sociedade imersa na Cultura Globalizada do Capitalismo. Individualismo, egocentrismo, são as marcas de uma intelectualidade cada vez mais marcada pelo conhecimento e pelo pensamento fragmentado, apenas com a preocupação de FAZER MELHOR. Perdemos o horizonte do OUTRO, do COLETIVO, do SER. Com a queda do "sonho socialista" fomos sequestrados de vez na unilateralidade da ideologia dominante que sustenta o Capitalismo.

E nesta situação globalizante do pensamento em perseguição ao PROGRESSO material, a realidade é de uma humanidade deacdente, cada vez mais pobre no sentido material e imaterial e, promotora ativa da destruição de si e do Planeta. Urge Filosofarmos mais do que nunca. A reumanização do HOMEM passa pela Filosofia.

Nessa passagem, falando sobre a importância da Filosofia, CHAUI  lembra que (CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6. ed. São Paulo: Editora Ática, 1997. p.18): “(...) Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história, for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e á nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes”.

Nesta reflexão, ainda, a contribuição de Gramsci é excepcional (GRAMSCI, Antonio. Introdução à Filosofia da Práxis. 29ª ed, Lisboa - Portugal: Editora Antídoto, 1986) e pode nos ajudar a partir da seguinte questão acerca do papel específico da Filosofia: É melhor permanecer no estado passivo inerente aos que se contentaram com a não refutação crítica? “(...) ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?”

Dialogar com o senso comum e, filosoficamente construir alternativas para a práxis intersubjetiva, social e política , é uma missão que deve ter um olhar lançado sobre o OUTRO, sobre a totalidade e não ser egoísta, mas sobretudo, cúmplice radical da justiça e equidade no plano coletivo: Ibid., (1986) p. 34 ss.: “Não será exato chamar de “filosofia” qualquer tendência de pensamento, qualquer orientação geral etc., e nem mesmo qualquer “concepção do mundo e da vida”. (...)”. Não confunda o conceito de Filosofia apenas como um conceito bonito e mercantilizado no mercado capitalista apenas como mais uma mercadoria à venda, ou Filosofia empregada conceitualmente nas doutrinas de grupos de cunho religioso.

Dizer que se pode fazer filosofia apenas pedindo que as pessoas pensem e reflitam sobre os problemas que os afligem ou que mais preocupam o homem moderno e contemporâneo, sem oferecer-lhes a base teórica para o aprofundamento e a compreensão de tais problemas e sem recorrer à base histórica da reflexão sobre tais questões, é o mesmo que não sair dos limites do senso comum.

GRAMSCI (1986) p. 18: “(...) no trabalho de elaboração de um pensamento superior ao senso comum e cientificamente coerente, jamais se esquece de permanecer em contato com os ‘simples’. e, melhor dizendo, encontra neste contato a fonte dos problemas que devem ser estudados e resolvidos. Só através deste contato é que uma filosofia se torna ‘histórica’, depura-se de elementos intelectualistas de natureza individual e se transforma em ‘vida’”. Vida aqui entendida como o direito à justiça e equidade devida a cada um dos homens e mulheres que pisam o chão deste planeta.

O Homem autodestrutivo teria que fazer o caminho inverso: resgatar a Ordem em meio ao Caos interior, banir o Caos-Violência no convívio social-político – hoje no contexto globalizante, das relações e produtor cada vez mais de desigualdades profundas – e então, por consequência, devolver a Ordem à vida Planetária que passa por um processo que já foi da ameaça para a real deterioração existencial.

A Ética por excelência torna-se o marco primordial da atividade filosófica, uma vez que ela centra o exercício filosófico na “arte do bem viver” liberando o EU para relações congruentes com o OUTRO.

E com Aristóteles, em sua obra: “A Ética a Nicômacos”, coloca-se em evidência a dinâmica de uma perspectiva metodológica de Filosofar, ou seja, aquela mesma que identifica o EU naturalmente voltado para o coletivo. O Homem, se faz em uma realização sua natureza, na Polis. O homem não é uma “ilha solitária” e independente das demais, ao contrário, ele é o “animal social e político” de Aristóteles .O Homem só atingirá a eudamonia (FELICIDADE) se for capaz dessa compreensão e dessa práxis.


O grego antigo partia da ideia de Ordem filtrada de sua cosmovisão, idealizava este conceito para a individualidade humana a partir do “mente sã, corpo são” e, por conseqüência, a transposição desta Ordem para a convívio social-político. Isto é dizer, em outras palavras, que o trabalho filosófico possui sempre uma dimensão política.

Em suma, penso que ficou claro que não podemos fugir da realidade de que estamos condenados a filosofar como filósofos e filósofas. Ao lançar um rápido olhar desde sobre a Grécia Antiga podemos já, no mínimo, ter uma leve sensibilidade à realidade de que a Filosofia tem muito a nos oferecer, não é mesmo?


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